sexta-feira, 29 de maio de 2009

Fastio

Ando te consumindo
E me sentindo mal
Ou estás passada,
Ou estás sem sal.

Te ouço e me repugno
Te bebo e me tonteio
Te como e me enjoo
Te amo e me enojo.

Acho que tua validade venceu.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Exéquias

Assim prescreve o Talmude
para os casos dessa sorte,
e não tomo outra atitude
nem tento outro norte...
Ponho logo luto oficial.
Oito horas após a morte —
de desgosto, morte matada,
de traição, de emboscada —,
lavado e ungido com perfumes,
celebro os fúnebres rituais,
todos os ritos habituais,
e o levo para a sepultura
em padiola de féretro aberto,
segundo o tratado Baba bathra.
E essa é toda recomendação
para o assunto de que se trata:
enterrar meu coração!

Depois sigo as obséquias:
rasgo todas minhas vestes,
abandono-me ao meu leito
deito cinzas na cabeça,
deixo a barba ir-me ao peito,
do cabelo esqueço o corte,
retiro-me para o pão de luto.
Bebo, mas com altivo porte.

Mas não cumpro as exigências,
rejeito algumas condolências.
Se Alguém me bate à porta,
pensando em me consolar, e,
“é Ela!”, alguém me avisar,
não mantenho as aparências:
bato a porta com estridência:
“Essa, aqui não entra!”