sexta-feira, 5 de novembro de 2010

quarta-feira, 21 de abril de 2010

O Segredo

Segredo é coisa que se descobre com jeito
Sem forçar a entrada, sem arrombamento
É preciso paciência e um pouco de ciência
Para fazer com certeza e de modo bem lento

Dez abraços à esquerda - um respiro
Espere
Volte cinco à direita - cinco suspiros
Recupere-se
Enlace com mil braços - mil transpiros
Pare
Vinte beijos à esquerda - vinte conspiros
Não pare
Mais vinte, à direita - um retiro
Separe

Volte, de mansinho
Agora, com amor, capriche
Quarenta beijos no meio
Contados um a um
Mas não atice
Fique assim, em devaneios
Perca-se em fetiches
Em rendas e debruns
Enrosque a mão na fechadura
Sentindo o pino frouxo
Não abrande a empunhadura
Procure o botão de combinação
Anexado ao eixo central
Alinhe as engrenagens
Uma para cada número
Gire o botão com cuidado
O sensível pino de movimento
Que põe em giro o engate adjunto
Chamado pêndulo de engrenagem
Prepare-se para a louca viagem
Quando o acionamento é conjunto
Engrenagens e entalhes em alinho
Tudo gira, gira, gira... em torvelinho

Falta apenas liberar a proteção
Que bloqueia o caminho do pino
Com cuidado e muito tino
Libere-a com jeitinho, com paixão

Pronto
Quanto tudo se alinha
Está formada a abertura
Agora, com candura
Concentre-se nos detalhes
Deixe o pino deslizar
Calmamente, sem receio
A buscar seu entalhe
Em baixo relevo
Sem a proteção habitual
Mirando bem no meio
Ele se alojará, sexualmente correto
Em seu habitat natural

Ao ouvir o estalido
Aguce o ouvido
Relaxe o corpo
E aumente o gemido
De prazer ou de dor

Eureka!
Você descobriu o segredo
Do cofre do amor

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Amor que fica

Anda, agora, assim revolta

Revoando de beijo em beijo

Em abraços sem compromissos

Em “não me amole”, “deixa disso”

Querendo ser livre, leve e solta

Não sente mais aquele desejo

Não sente mais nenhuma paixão

Apenas fica, sem qualquer emoção

Entre um que vem e outro que passa

Rodeando de longe seu coração

Sem nunca cair em agrado

Tal e qual gorda e velha traça

Desejando livro recém lançado

É borboleta perdida na noite

Deslocada no espaço-tempo

Com esses tantos “ficantes”

Ao cabo, todos amores errantes

Que lhe fustigam como açoite

Que não lhe amarram correntes

Que não lhe deitam raízes

Que não lhe deixam sementes

Esses amores inocentes

Essa coisa meio adolescente

São apenas um disfarce

Pra superar o impasse

Que impera em sua vida

Desde a grande despedida

Do amor que lhe abriu a rosa

Deixou-lhe o ventre em brasa

O útero em polvorosa

Porque o amor verdadeiro

Já lhe ensinara o ditado

E ela o teve comprovado

O amor que fica para sempre

E ela enrubesce quando lembra

E fica sem saber o que fazer

Porque ainda treme de prazer

Ah, o amor que verdadeiramente fica...

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Amor amigo

Nunca fui de amores lerdos
Amores desses tipo semente
Que se regam constantemente
E que lutam contra o tempo
Passam meses em dormência
E só brotam após uma existência

Meus amores sempre foram poucos
Mas foram todos muito loucos
Desses que, assim, de repente
Ocupam corpo e mente
Um olhar apenas e a decisão
Você é meu amor, meu tesão

O primeiro é água morna
O segundo é indecente
Aquele, que nunca entorna,
Mantém a paixão dormente
Este, que é pura tiborna
Acaba com a vida da gente

Mas ando pensando ultimamente
E vá lá que isso suceda
Que você, amiga carente
Se achegue assim, de repente
E, com essa voz de seda
Diga que assim coisa e tal
E que tal se nós, se a gente...

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Amor Infernal

Não procuro um amor aferido
Que em tudo comigo concorde
Música de um só acorde
Como samba desafinado
Que entra por um ouvido
E sai logo do outro lado

Não quero amor adocicado
Amorzinho-perfeitinho
Mas algo bem temperado
Com sal, pimenta e cominho
Que saiba me fazer carinho
Com gosto puro de pecado

Não quero amor de anjo
Que me leve para o céu
Prefiro amor-diabo
Escorregadio feito quiabo
Que me faça um escarcéu
E me ponha em desarranjo

Eu não procuro amor passivo
Mas mulher em forma de gente
Pois enquanto eu estiver vivo
O inferno é mais atraente