Eu sou o teu reverso
A rima antes do teu verso
O original sobre teu rabisco
O olho dentro do teu cisco
Sou a letra depois da frase
O pronome depois da crase
A métrica gerando o soneto
A carne furando o espeto
És o papel sobre minha letra
O traço branco na linha preta
O descaso sobre meu desvelo
O fogo derretendo meu gelo
Eu sou o teu contrário
Tua roupa fora do armário
O sol brilhando em tua noite
O coração lacerando teu açoite
Sou o banco sob a praça
O copo dentro da cachaça
A ponta no meio do novelo
A carta sobreposta ao selo
Tu és o meu inverso
O mar em meu corpo imerso
O tombo antes do tropeço
A cesta antes do arremesso
Sou tua volta antes da viagem
Teu medo depois da coragem
O bonsai que se agiganta
O abismo que te encanta
Nós somos o avesso
O fim antes do começo
A terra cobrindo a planta
O corpo aquecendo a manta
Às vezes uma só imagem
Doutras apenas miragem
Somos o tudo e o nada
A curva depois da estrada...
E vamos assim rabiscando
Revisando e escrevendo
Sem saber qual é o fim
Dois avessos se revezando
Eu, dentro de ti vivendo
E tu, habitando em mim
quarta-feira, 30 de julho de 2008
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3 comentários:
Nossa, Marcelo... Esse poema de avessos.. Tão fluido, belíssimo! Você tem, sim o dom dos versos aí na alma :)
Nossa, mas foi tão lindo que senti até um revirar das coisas aqui. Um mal estar gostoso pra eu nunca mais me esquecer do quanto é bom a gente ser pego de assim surpresa, desarmados, e sermos virados pelo avesso tão gentil e intensamente.
Adorei essa poesia sua. Da primeira vez que li lá no blog da Renata, nossa... Juro que a garganta até fechou de tão emocionada que eu fiquei. Mas eu não sou boa pra escrever essas coisas. Garganta fecha, pupila dilata, dá um revertério interior que me parece estar eu mesma virada do avesso. Obrigada por existir, poeta.
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