Um sono reparador é o que todos desejam. Mas o que fazer quando alguém insiste em nos deixar acordados?
Mal me deito, cansado da noitada, e quando o sono me vêm entorpecendo, dá-se o estalo. A mente desperta, os olhos esbugalham: é a insônia.
É assim, nas horas mais impróprias que ela chega: quando mais precisamos dormir, porque temos um grande e inadiável compromisso no dia seguinte, com hora marcada, ela nos pega de surpresa. Parece estar a nos espreitar o tempo inteiro. E quando a mente começa a se perder nos descaminhos da inconsciência, o estalo vem. Foi-se embora o sono.
Para as insônias decorrentes de causas banais – dívidas pendentes, crônicas emperradas, gráfica lerdinha – eu tinha o remédio certo: antidepressivo. Mas isso eu consegui eliminar: um amigo parapsicólogo me deu a chave do segredo. Agora basta um certa reza e adormeço logo.
Mas, às vezes, isso também não resolve.
E cá estou eu, insoniando sem saber o motivo. Será mesmo que não sei o porquê dessa insonolência, logo eu, um insonioso recorrente?
Aprendi desde pequeno o remédio caseiro para combater esse mal que aflige aqueles que têm problemas para resolver e os levam para a cama: contar, contar e contar, seja lá o que for, até o sono chegar. Contava carneiros, naquela época. Hoje conto carros, mas logo o policial rodoviário começa a descobrir erros e a multar; conto números, mas logo o matemático começa a pensar em palavras; conto conto, então, palavras, mas logo o escritor-revisor começa a descobrir erros...
Conto os beijos que dela ganhei: um, dois, três... Reconto: um dois, três... Foram só esses mesmos, insuficientes para trazer o sono de volta. Permaneço em vigília noite afora, uma idéia martelando a mente insonolenta: "Por que tenho perdido o sono ultimamente? Será por causa daquela moça?!".
Consulto o dicionário e vejo que insônia também pode ser chamada de agripnia, anipnia. Por que tudo me lembra nomes femininos? Então, batizei a minha de nome próprio: mipnia.
Vou à geladeira. O sono costuma se esconder no fundo de uma garrafa de cerveja, ou de cachaça. Mas, às vezes, se esconde tão bem, que nem em uma dúzia delas eu o encontro.
Alguém já me ensinou a livrar-me da insônia causada por uma dívida a ser paga no dia seguinte: "ligue para o credor e diga que não vai poder pagá-lo – sua insônia passará para ele, e você dormirá como anjo!". Possa ser. Mas se é amor o que ando devendo...!?!?!? De que me adiantaria ligar para ela? E devo tanto que acabarei fazendo como aquele outro: devo não nego, pago quando puder.
Alguém há de ficar no prejuízo. Há promissórias antigas nas mãos de Maria, cheque pré-datados na bolsa de Creusa, recibos com uma, faturas com outra – e uma conta conjunta no vermelho com a titular, a juros estratosféricos.
sábado, 6 de dezembro de 2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)
2 comentários:
Tal qual um zumbi é o escritor acordado tentando dormir... Não durma então! Melhor escrever do que contar carneiros... E, realemnte existe o verbo insoniar !!! Mas bá que és mesmo uma Enciclopédia Humana !!!
Mas que tanta pendenga, homem!
"Vou à geladeira. O sono costuma se esconder no fundo de uma garrafa de cerveja, ou de cachaça." - Ó o pânceps, hein!
Belo texto. Todo amarradinho, como sempre.
Postar um comentário