sábado, 20 de dezembro de 2008

O que você quer ganhar de Natal?

Todos somos eternamente crianças. E essa criança que habita dentro de nós ressurge a cada Natal, na esperança de ganhar de alguém aquilo que não conseguimos por nós mesmos.

Há muito que não penduro mais minhas meias numa árvore de Natal, apesar de ser o que mais tenho de sobra em meu armário. Também não olho mais a árvore de natal, na esperança de um presente desejado. Não sou mais criança. E nem em criança ganhei exatamente aquilo com que sonhei. Mas a esperança não morre: se não coloco meias, coloco marcelo.grillo@oi.com.br

Talvez seja difícil me agradar. Se nem eu mesmo sei o que quero, que dirá minha filha? Ela assunta, pesquisa, joga “um verde”, às vezes até “um maduro”, e acaba só ouvindo uns repetidos “não preciso de nada, guarde seu dinheirinho para você!”.

Mas eu preciso de muita coisa. Só não sei exatamente o quê. Talvez sejam as experiências de todos os natais que já vivi que me deixaram assim, as expectativas sempre frustradas de pedir uma coisa e ganhar outra. Eu pedia uma bola de couro, ganhava uma de plástico; pedia um sapato novo, ganhava apenas um remendo no velho... Será que eu pedia mais do que Papai Noel poderia me dar? Ou seria pedir mais do que merecia?

Não sou uma pessoa difícil de agradar, mas não quero mais, definitivamente — assim como as mulheres não querem mais eletrodomésticos —, ganhar lenços, meias, camisas...

Talvez eu, e mais milhares de pessoas, sejamos meio turrões. Por que não aceitarmos prazerosamente, e fazermos cara de agradável surpresa e nos deliciarmos sinceramente com aquilo que recebermos, sempre dado de tão bom coração, nos festejos natalinos?

Vá saber! Como dizia minha avó, e repete Renato Aragão, “assim como são as pessoas, são as criaturas”.

Queria ser simples como a Dona Irene, que exigiu do marido: “Jove, você vai me dar um presente de Natal! E eu quero ganhar uma lata de tinta branca para pintar a varanda!”.

Eu preferia ganhar exatamente aquilo que quero, sem precisar pedir. Mas, penso: se eu não disser o que desejo, como as pessoas vão saber?

Pois neste natal eu quero ganhar algo surpreendente, tipo um beijo não esperado, um abraço bem carinhoso, uma palavra que me deixe feliz e que me faça esperar ansiosamente pelo próximo natal. E isso não é nada que um pobre cristão não mereça ou que ninguém possa me dar.

Ah, amigos escritores, no fundo, no fundo, de Papai Noel eu queria ganhar uma coisa só: leitores, leitores de montão... aos “bilhares”! Queria ver, em plena meia-noite, minhas caixas de mensagens abarrotadas de elogios e mais elogios e mais elogios... E, quem sabe, lá do céu, um recadinho de Rubem Braga, curto e grosso: “Continue tentando, Marcelo! Nesse ritmo você há de ganhar o título de Coleirinho das Crônicas”.

Um comentário:

Renata Mofatti disse...

Eu quero um disco de Vinil, daquele bem bolachão, nem me importo se for caro ou se tiver na promoção!!!

Daquele que só quem gosta entende como é bom receber... De pregar na parece e se derreter dizendo: esse disco é meu, só meu!!!

Feliz Natal!!!