quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Verde que te quero Rosa

A Natureza não é como um cristal que se parte irremediavelmente; é mais parecida com um coração partido, que se regenera com o tempo...

Nunca gostei de extremos. Entre o preto e o branco existem milhares de nuances de cinza; entre o amor e o ódio há sempre a possibilidade de uma coexistência pacífica; e no meio dessa história de o mundo se acabar amanhã há a inteligência do homem para consertar o que está sendo feito de errado.

A Natureza é delicada, e seu equilíbrio facilmente quebrado ― mas não é como um cristal que se quebra para sempre. É mais parecida com um coração partido. Ela mesma, per si, se regenera, se lhe damos tempo para isso. Devemos preservá-la, mas não chegar a certos exageros de quem nada entende do assunto. Os “verdes”, alguns alçados a essa condição por fanatismo sem causa, andam exagerando quanto ao fato de uma simples flor ter o poder de alterar o equilíbrio ecológico do mundo.

Em Burarama, faço parte de uma geração que viu matas serem derrubadas, e que tomou para si a tarefa de consertar o que seus avós desfizeram: plantamos árvores aos montes e flores também, muitas flores. Minha irmã tem um jardim imenso, onde a natureza se renova a cada manhã.

Naquele domingo de início de primavera, o almoço em família acabara ― sem brigas ― e todos se refestelaram nas poltronas e redes da varanda. A conversa corria solta e as crianças brincavam no jardim.

De diferente, quebrando a placidez do ambiente a das conversas familiares, havia uma prima que saíra desde pequena para a cidade, e nunca vivera na roça. Heloísa sempre fora tímida e medrosa, calada demais. Não se sabe pelas barbas de quem, virara militante política, ativista ambiental, uma “verde” extremista. E começou a nos dar lições e fazer previsões catastróficas acerca do futuro da humanidade. Nós ouvíamos por ouvir, sem responder ao monólogo. Demos-lhe o palanque, mas não nossos ouvidos.

Sua filha, mais para rosa que para verde, brincava perto de umas flores. A menina parecia um beija-flor rodeando sua fonte de alimentos. A flor, pensei eu, era o alimento da alma daquela admiradora da natureza. A “verde” avisou ― avisou, não: ameaçou ―: “Não mexa nas flores, Rosa Helena. Se mexer, apanha!”. Mas crianças são crianças. Se me lembro bem, essas ameaças entram num ouvido e saem noutro.

E Heloísa ficou recitando o Código Florestal, na parte que interessava ao momento: “Art. 26º - Constituem contravenções penais, puníveis com três meses a um ano de prisão simples ou multa de uma a cem vezes o salário mínimo mensal do lugar e da data de infração ou ambas as penas cumulativamente: ...n) matar, lesar ou maltratar, por qualquer modo ou meio, plantas de ornamentação de logradouros públicos ou em propriedade privada alheia ou árvore imune de corte...”.

Sobre a nossa Lei Ambiental (Código Florestal), eu, que sou Engenheiro Agrônomo, e meu cunhado, que é Técnico Agrícola, já discutimos bastante. É uma das mais avançadas do mundo, e faz bem ao proteger as matas, as árvores. Mas, de tão avançada, chegou ao cúmulo de punir com multa pesada aquele que pisar na grama de um jardim público. Ora, e onde ficam os piqueniques? E o futebol, instituição nacional?

Daí a pouco, Rosa Helena chegou perto da mãe trazendo uma flor, uma simples florzinha, retirada de uma arvorezinha cheia delas. A mãe ficou possessa, resmungou um “eu te avisei” e deu um tapão na menina, na Rosa mais bonita daquele jardim.

E eu, policial em descanso, mas sempre alerta, tive pensamentos contraditórios. Passo as algemas nessa “adulta que nunca foi criança”...? Acabei prevaricando.

Rosinha não berrou, apenas derramou uma lagrimazinha. Nós todos nos olhamos, e lembramos das quantas artes havíamos feito sem levar sequer um brigueiro. Definitivamente, como já disse o poeta, não seria a retirada daquela flor que deteria a chegada da primavera. E todos devem ter pensado como eu: “Pobres dessas ‘verdes’, que consideram uma flor intocável, mas se acham no direito de bater numa criança, numa inocente criança que admirou a natureza e quis ofertá-la a quem mais ama!”.

Pois é, amadas desse mundo, fossem os homens “verdes extremistas” e nenhuma de vós receberíeis, jamais, sequer uma rosa!

2 comentários:

Anônimo disse...

Chega a ser absurdo, mas é incrível o número de pessoas que não têm bom senso. O mundo às vezes é muito maniqueísta - principalmente nesse caso de meio ambiente. A expressão "desenvolvimento sustentável" é tão falada, mas parece atingir e fazer sentido correto para pouquíssimas pessoas. A flor iria morrer e despetalar de qualquer forma.

Anônimo disse...

Caríssimo Marcelo,
eu pensava q era uma "verde", como ambientalista que sou, pregadora do desenvolvimento sustentável sim, desde que para todos, educadora ambiental, defensora dos meus amados Parque do Caparaó e Serra do Brigadeiro. Mas agora vejo que não. Graças a Deus que não!No máximo sou uma "verde água", algo bem plácido e leve, pois felizmente já ganhei muitas flores ao longo dessa vida, de vasos a bouquets, passando por simples unidades e amei todas elas. Com sua licença, claro, vou trabalhar esse texto com meus alunos pois falo muito da importância do bom senso, sempre. Beijão e obd por esse presente meu amado amigo.