sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Eu sou um gato

Às vezes a gente acorda, levanta, recebe um “bom dia, tudo bem?”, responde que “sim, está tudo bem” e fica pensando: “está tudo bem mesmo, estou vivo?”. E seguimos, por força da necessidade, a rotina dos dias: caminhamos pelas ruas, sobrepostos a nós mesmos, autômatos dando bons dias e xingando, rindo e chorando, amando e desamando, trabalhando e espreguiçando, escrevendo e rabiscando, vivendo e morrendo...

É isso: não sou apenas um homem, estanque nessa morte-vida: ora estou vivo, ora morto. E surpreendo-me por vezes em estado duplo: vivo e morto simultaneamente. Essa dualidade exige uma resolução rápida, antes que eu me quede morto, somente.

Anuncia-se para breve a construção do computador quântico, com processadores qubits. Um qubit pode ser zero e um ao mesmo tempo, dois estados sobrepostos. É uma discussão antiga, “um gato de Schrödinger”. Em 1935, esse alemão, um dos criadores da física quântica, questionou se um gato ― grosso modo, um grupo de átomos ― poderia estar morto e vivo ao mesmo tempo. Nunca gostei de gatos e tanto se me dava se eles estavam vivos ou mortos. Era discussão para boi dormir, pensava eu até ontem.

Hoje, a sobreposição de estados me interessa ― não a física, mas a espiritual. Essa sobreposição não seria eterna, posto que é sensível a qualquer perturbação do meio. E como há perturbações no meio, e principalmente dentro de mim! Sobrepunha-me por pouco tempo, normalmente. Mas ultimamente ando questionando a física quântica. Tenho andado sobreposto há bastante tempo. E a questão nem é se estou vivo ou morto, mas se o amor morreu ou não em mim. Amarei novamente, estou amando ou jamais voltarei a amar? Essa dualidade amor-desamor me faz pensar seriamente: eu sou um gato (de Schrödinger)?

Meu processador cerebral é comum, e quando recebe a tarefa de procurar uma mulher numa lista, ele tem de ler nome por nome até achar aquela que me seria adequada. É um processo demorado, que levará anos, uma vez que a mulher ideal nunca é a primeira. E estarei morto quando ele acender a luz verde do “eureka”. Preciso que desenvolvam rapidamente esse computador mágico, capaz de fazer essa busca geral de uma vez só, numa única grande operação, usando a poderosa lógica da física. Eu sou um ilógico: só amo quem não deveria amar.

Dentro de um par de anos talvez ele esteja na minha mesa (até lá vou me virando, ora com uma Maria das Dores, ora com outra Maria Dolores). Daí sentar-me-ei à rede, numa manhã de domingo, farei um cadastro com todos os meus escritos e, ansioso como um adolescente, darei a ordem ao “Quantinho”: ache a mulher ideal para mim!

E devo deixar mesmo essa tarefa a cargo de um computador. Aos meus olhos e ao meu coração elas andam parecidas demais, como as chinesas ― cara de uma, focinho de outra.

4 comentários:

Anônimo disse...

Pois olhe! Duvido que esse tal de Quantinho conseguirá entender as mulheres aheuheuaheuhau De qualquer forma, miau pra você também =^^=

Renata Mofatti disse...

Olá Cat man!!! rsrsrsrs

Tem sete vidas e pula muros pra se arriscar, pra se aventurar muito além das letras? Vivendo e morrendo seria um título triste e bem menos arriscado que ser um gato! Ser gato é melhor! Só que poxa vida: vc detesta o bichano, tadinho! Beijos!

Paixão, M. disse...

AH!!! Eu saia, sabia que já havia lido esse. Doze de agosto.

Você mudou o título e me confundiu toda, rs.

Essa idéia de "Quantinho"... Quero unzinho aqui em casa!

kkk

bjo!

Anônimo disse...

Eu já li esse texto antes.E, que pena, não posso dizer aqui o que acho de algumas palavras contidas nele.
Bj.