sábado, 4 de outubro de 2008

De salto alto

O homem inventou o salto alto para si, para ficar mais poderoso. Mas, desde que a mulher se apoderou desse fetiche, ela e o mundo não são mais os mesmos.


Há um julgamento rápido e rasteiro para aqueles que se acham, momentaneamente, num patamar acima do que realmente podem galgar: está de salto alto!

Esse ditado se aplica bem aos jogadores de futebol, aos políticos, aos atores. Mas nunca houve uma aplicação tão precisa e justa como às mulheres de hoje em dia: estão mesmo, todas elas, de salto alto!

O "salto alto", com conotação de se sentir poderoso, superior aos seus súditos, foi idéia de Luiz XIV e popularizado por Luiz XV. De lá pra cá o salto ganhou o mundo das mulheres, depois de ser abandonado pelos homens. Há décadas, homens usaram os "cavalos de aço"; persistem apenas as botas de vaqueiros. E aqui fica evidente o jogo traiçoeiro das mulheres: para que os homens abandonassem de vez o uso daquilo que pretendiam para si com exclusividade, passaram a taxar de efeminados aqueles que insistissem no uso de sapatos de salto alto.

O que era modismo veio para ficar. Tanto que elas já incorporaram os centímetros do salto à sua altura oficial. Veja lá na carteira de identidade: um metro e setenta para quem não mede um e meio. Elas não querem apenas estar à altura dos homens; querem estar mais altas, acima deles. Alguns homens pensam que são mais homens se forem mais altos que as mulheres e que os próprios semelhantes. Eu não preciso de nada disso. Do alto do meu metro e sessenta e pouquinho me sinto do tamanho exato.

Como todo adereço inserido no universo feminino, o salto alto gera controvérsia. Todos adoram a elegância, a sensualidade, a ginga que os saltos conferem ao andar das mulheres; mas há também os que detestam o poder que elas ganham ao subir num salto. E como nem todos sabem lidar com o poder, fogem delas; algumas, por seu lado, se tornam ditadoras, abusadas. Estas, mal aprendem a andar de "havaianas" e já querem montar na soberba de um salto. Ao caminharem, mais parecem um... um mondrongo!

Concordamos que elas merecem ficar num pedestal, mas as madames não podiam esperar que nós as colocássemos lá, não? A superioridade não está, necessariamente, apenas no querer ser superior; e, muito menos, num salto alto.

Eu, cá da minha altura, sempre encarei as altonas, as bitelonas. Não tenho complexos. Se estou com uma mulher dez ou quinze centímetros mais alta que eu, me acho o máximo. As outras me olham e imaginam: o que esse baixinho tem para estar com um mulherão desses? E me lançam olhares cobiçosos, querendo descobrir meu segredo. Aí eu me encolho mais ainda, só para dar uma valorizadinha.

3 comentários:

Daniel. disse...

bem escrito, poderia dizer que se trata de uma crônica bem humorada, banalidades cotidianas, mais parecem os lamentos do velho braga

Anônimo disse...

"Aí eu me encolho mais ainda, só para dar uma valorizadinha." - Meu deus, é muita sonseira pra uma pessoa só. Queria saber como é que cabe haeueheuhaeuahu

Renata Mofatti disse...

É o finalzinho bem debochadinho que dá todo o clima pra sua performance de salto alto !!! rsrsrs